Meu nome é Josnei Martins, meus pais Ervino Martins e Terezinha Aparecida Pereira Martins, meus irmãos Adélio Martins, e Jucélio. Sou natural da cidade de Porto União, Santa Catarina, fui pra Porto Vitória quando eu tinha dois anos e cresci escutando as histórias da família da minha mãe e do meu pai que fazem parte da tão falada Guerra do Contestado. Quando os camponeses já fracassados se uniram em um grupo muito grande e foi criado a tal Jagunço. O Contestado foi a batalha dos camponeses contra os coronéis e um grupo americano que invadiram as propriedade tirando o direito dos camponeses de suas terras, pra construção da ferrovia, que atravessa os estados de Santa Catarina e Paraná indo até o Rio Grande do Sul.
Na guerra do Contestado muitos camponeses morreram nessa batalha, já fracos se uniram e formaram a tal jagunço onde, por muito anos eles lutaram, uns por justiça, outros por banditismo. Eram chefiados por Joaquim Deodato e o monge João Maria, aí muitos rezavam implorando a ajuda, outros curavam, outros roubavam e matavam. Muito ouro foi enterrado nos sertão adentro, contava o meu avô Francisco Pereira, hoje já falecido. Quem contou pra ele, quando era menino, foi um senhor massacrado e sofrido, já cego que era um sobrevivente. Quando as casas eram invadidas atrás de ouro e prata, que eram enterrados e depois matavam sempre as duas pessoas que abriram o buraco pra enterrar. Isso com o tempo se tornou lenda e os lugares assombrados.
Quando meu avô tinha uns onze ou doze anos foi o fim do Jagunço quando o chefe deles já tinha sido preso há muito tempo, o carrasco Joaquim Deodato, que chegava e sem piedade matava homens, mulheres e crianças. Então os jagunços sem força pra lutar já navegando na mais profunda pobreza foram presos. Numa manhã meu avô passava no acampamento deles quando pularam nele ele conseguiu escapar correu até os rancho aonde seu pai, meu bisavô, João Pereira Batista que era expedicionário militar na época, ocupava cargo de inspetor, um tipo de autoridade pra cada região foi até o pequeno vilarejo da região Valões, hoje Irinópolis e foi chamada a polícia e militares acompanharam na costa do Rio Timbó, em São Pedro Interior de Porto União.
Assim é a minha história e da minha família, como meu bisavô, que lutou com armas em punho pra defender a sua pátria. Até que ele se apresentou em Curitiba no batalhão, em 1925, ficou fora 2 anos e meio, sem noticia, aí ele apareceu mas cumpriu a sua missão, participou de outra guerra além da prisão dos jagunços, então faleceu com 83 anos completamente doido, até sem documento. Como um herói sem nome e sem historia, ou melhor dizendo foi um herói sem valor nenhum. E como meu bisavô eu também enfrento uma batalha mas é diferente da dele, a minha é com a doença, sou portador de síndrome nefrótica, enfrento a 6 anos, hoje faço diálise vou precisar de transplante de rins. Enfrento dificuldade porque vou fazer o tratamento em casa. Minha família vive apenas do salário, somos chacreiros de uma fazenda, eles exigem muito, a casa não oferece aquelas condições mas confio em Deus vencerei junto com a família.
JOSNEI MARTINS e a mãe TEREZINHA APARECIDA PEREIRA MARTINS.
Janeiro de 2012.
A partir destas histórias muitas pesquisas aconteceram e gostaríamos de destacar algumas curiosidades:
As cidades da região denominada "Contestado" abrangia cerca de 40.000 Km2 entre os atuais estados de Santa Catarina e Paraná, foram palco de um dos mais importantes movimentos sociais do país. Até o início deste século a fronteira não havia sido demarcada.
A empresa norte americana Brazil Railway Company recebeu do governo federal uma faixa de terra de 30Km de largura, cortando os 4 estados do sul do país, para a construção de uma ferrovia que ligaria o Rio Grande do Sul a São Paulo e ao mesmo tempo, a outra empresa coligada passaria a explorar e comercializar a madeira da região, com o direito de revender as terras desapropriadas ao longo da ferrovia.
Os trabalhadores que vieram de vários lugares do país, para a construção da Ferrovia, após a sua conclusão, em 1910, encontravam-se em situação de extrema pobreza e uniram-se aos ex-proprietários das terras e, na situação fragilizada, buscaram ajuda e foram acolhidos pelos “lideres messiânicos”, os monges com codinomes José e João Maria, formando o grupo dos Caboclos.
...No auge da Guerra, em 1914, 25 mil sertanejos enfrentavam 6 mil soldados do exército e mil vaqueanos mercenários do general Setembrino de Carvalho, veterano de Canudos. Chegaram a ocupar Curitibanos, incendiando prédio públicos e o casarão do coronel Albuquerque, onde deixaram a emblemática mensagem:
“Nós estava em Taquaruçu tratando da nossa devoção, não matava nem roubava. O Hermes ( da Fonseca) mandou suas forças covardemente nos bombardear, onde mataram mulheres e crianças. O governo da República toca os filhos brasileiros do terreno que pertence à nação e vende para o estrangeiro; nós agora estamos dispostos a fazer prevalecer os nossos direitos”. ( Atlas Histórico IstoÉ Brasil)
O números de mortos jamais alguém saberá. Quando os últimos redutos foram dizimados, em dezembro de 1915, as baixas contadas entre os militares eram 320, mas entre os civis as estimativa vão de 3 mil a 20 mil.
Apesar da causa da Guerra do Contestado nada ter a ver com o contestado de limites entre Paraná e Santa Catarina, o fato é que menos de um ano depois, em 20/10/1916, os dois estados firmaram o acordo que pos fim à pendenga história. ... ( Krüguer, Nivaldo . Sudoeste do Paraná: história de Trabalho, bravura e fé. Curitiba: Edição do Autor, 2004. )
Muitas são as histórias de bravura do povo paranaense e brasileiro, se você ficou curioso e quer saber mais sobre a Guerra do Contestado, os jagunços, também chamados de Caboclos e seus líderes e ou sobre a Revolução de 24 e a Coluna Prestes da qual o avô do Josnei pode ter participado acesse:
Mediação Profª Carolina Domingues de Mattos